Veja as mudanças com a PEC dos Gastos Públicos.
Entenda a proposta.
A proposta de emenda à
Constituição que impõe um teto aos gastos públicos (PEC 241) passou por
sua primeira votação na Câmara dos Deputados na segunda-feira (10). O
texto-base foi aprovado em primeiro turno de votação, mas para começar a
valer precisará ser aprovada em segundo turno e depois ser submetida ao
Senado. O objetivo da proposta, segundo governo, é o reequilíbrio das
contas públicas.
O presidente da Câmara
dos Deputados, Rodrigo Maia, disse nesta terça-feira (11) que a
previsão para a votação em segundo turno da PEC do Teto dos Gastos
Públicos é 24 ou 25 de outubro.
Entenda a proposta:
O que propõe a PEC 241?
A PEC do teto de
gastos, proposta pelo governo federal, tem o objetivo de limitar o
crescimento das despesas do governo. Considerado pelo governo Michel
Temer como o primeiro passo para superar a crise econômica e financeira
do país, a medida fixa para os três Poderes, Ministério Público da União
e da Defensoria Pública da União um limite anual de despesas.
Por que o governo quer limitar os gastos?
A equipe econômica
para tentar reequilibrar as contas públicas nos próximos anos e impedir
que a dívida do setor público, que atingiu 70% do Produto Interno Bruto
(PIB) em agosto, aumente ainda mais.
Para quem vale a limitação do teto dos gastos públicos?
A regra vale tanto
para gastos do Executivo quanto para despesas do Senado, Câmara,
Tribunal de Contas da União, Ministério Público da União (MPU), Conselho
do MPU, Defensoria Pública, Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal
de Justiça, Conselho Nacional de Justiça e justiças do Trabalho,
Federal, Militar, Eleitoral e do Distrito Federal e Territórios.
Como é calculado esse limite de gastos?
Segundo a medida, o
governo, assim como as outras esferas, poderão gastar o mesmo valor que
foi gasto no ano anterior, corrigido pela inflação. Ou seja, tirando a
inflação, o limite será o mesmo valor do ano que passou. A inflação,
medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é a
desvalorização do dinheiro, quanto ele perde de poder de compra num
determinado período. Apenas para 2017 o limite orçamentário das despesas
primárias – aquelas que excluem o pagamento de juros da dívida – será o
total gasto em 2016 corrigido por 7,2%. De 2018 em diante, o limite
será o do ano anterior corrigido pela variação do IPCA de 12 meses do
período encerrado em junho do ano anterior. No caso de 2018, por
exemplo, a inflação usada será a colhida entre julho de 2016 e junho de
2017.
Qual será a duração da medida?
O texto limita por 20
anos os gastos federais ao orçamento do ano anterior corrigido pelo
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Ela poderá sofrer alterações?
A partir do décimo ano
de vigência do novo regime fiscal, o presidente da República pode
propor um projeto de lei complementar para alterar o método de correção
dos limites de cada grupo de órgão ou poder. O texto permite apenas uma
alteração do método de correção por mandato presidencial.
Quais serão as consequências caso o limite não seja cumprido?
Caso o limite de
crescimento de gastos seja descumprido, Poderes ou órgãos a eles
vinculados ficarão impedidos no exercício seguinte de: reajustar
salários, contratar pessoal, fazer concursos públicos (exceto para
reposição de vacância) e criar novas despesas até que os gastos retornem
ao limite previsto pela PEC.
No caso do Poder
Executivo, a extrapolação de seu limite global provocará a proibição
adicional de criar ou expandir programas e linhas de financiamento ou o
perdão, renegociação ou refinanciamento de dívidas que causem ampliação
de despesas com subsídios e subvenções.
Além disso, o governo também não poderá conceder ou ampliar incentivo ou benefício de natureza tributária.
A medida se aplica para todos os tipos de gastos do governo? O que fica de fora?
Ficarão fora dos
limites, entre outros casos, as transferências constitucionais a estados
e municípios, os créditos extraordinários para calamidade pública, as
despesas para realização de eleições e os gastos com aumento de capital
das chamadas empresas estatais não dependentes.
Outra possibilidade de
exclusão do teto é o uso de recursos excedentes ao resultado primário
de cada ano no pagamento de restos a pagar registrados até 31 de
dezembro de 2015.
Assim, mesmo com a
previsão de um deficit, como o projetado para 2017, de cerca de R$ 139
bilhões, se ele for menor, a diferença poderá ser usada para quitar
esses restos a pagar sem entrar no limite do regime fiscal.
Como ficam os gastos com saúde e educação?
Diferentemente de
outras áreas, saúde e educação tiveram o limite traçado pelo mínimo a
ser gasto e não o máximo das despesas. Em 2017, haverá exceção para as
áreas de saúde e educação, que somente passarão a obedecer ao limite a
partir de 2018, segundo o governo. Pelo texto, o piso para os dois
setores passa a obedecer ao limite de despesas ligado à inflação a
partir de 2018. Atualmente, a Constituição especifica um percentual
mínimo da arrecadação da União que deve ser destinado para esses
setores.
Em 2017, o parecer
prevê, no caso da saúde, percentual de 15% da receita líquida, que,
segundo a Emenda Constitucional 86, só valeria em 2020. No caso da
educação, o piso constitucional foi mantido em 18% da arrecadação de
impostos. De 2018 em diante, o valor executado no ano anterior será
corrigido pelo IPCA até 2036.
Qual o impacto da medida sobre o salário-mínimo?
No relatório
apresentado à comissão especial que analisou a PEC na Câmara, o deputado
Darcísio Perondi (PMDB-RS) afirmou em seu parecer que a proposta prevê
que o salário-mínimo, referência para mais de 48 milhões de pessoas,
deixará de ter aumento real, aquele acima da inflação se o governo
ultrapassar o limite de despesas, ou seja, gastar mais do que o fixado
na lei.
Como ficam os concursos públicos?
Ricardo Volpe disse
que, pela PEC, Judiciário e Legislativo têm “gordura para queimar” e
estão em situação confortável, inclusive para promoverem novas
contratações por concurso público. A exceção seriam os “mais
gastadores”, como a Justiça do Trabalho. Já o Executivo ficaria
dependendo de outras medidas de ajuste fiscal para se manter com a atual
estrutura.
O que diz quem apoia o projeto?
Diretor da Consultoria
de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara, Ricardo Volpe diz que
o único ponto em que todo o impasse é sobre a visão do papel do Estado.
“Hoje estamos com o maior histórico de despesa publica, com 20% do PIB.
A gente quer que continue crescendo ou quer que diminua ou
estabilize?”, questionou. Ricardo Volpe, que ajudou a elaborar a
proposta, assegura que o ajuste fiscal é inevitável, mas é uma escolha
da sociedade.
Deputados da base
aliada saíram em defesa da proposta do Planalto, no dia da votação,
argumentando que a medida é parte da solução para resolver a crise
fiscal deixada pelos governos petistas. "Esta PEC é apenas o começo das
reformas", discursou Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).
O líder do PMDB,
deputado Baleia Rossi (SP), argumentou que a aprovação da PEC é
necessária para a reação da economia. “Esse novo regime fiscal vai
devolver credibilidade ao país, o que será muito importante para os
próximos desafios, para a geração de novos empregos, para garantir
trabalho e renda para a população”, disse.
O que diz quem é contra o projeto?
Contrários à PEC,
deputados de partidos de oposição, como PT, PSOL, Rede, PCdoB e PDT,
afirmaram que a medida congelará os investimentos sociais em áreas como
saúde e educação. Líder da Rede na Câmara, o deputado Alessandro Molon
(RJ) classificou a PEC de injusta com o país. Os protestos contra a PEC
241 não vieram apenas da oposição. Integrante do PTB – partido da base
aliada de Temer –, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) subiu à
tribuna para criticar duramente a proposta do governo federal.
A líder da Minoria,
deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse que esse é o segundo momento
mais grave da democracia brasileira, depois do impeachment. “É o
desmonte do Estado e do sistema de proteção social do brasileiro.
Teremos mais contração, mais recessão e mais desemprego”, disse.
Por Agência Brasil
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